Traço Magazine: Ritz 77
2022
In the latest edition of Traço magazine, Paulo Jervell and Diana Noronha Feio talk about the 15th anniversary of Openbook, the launch of Nobk and also about the recently completed Ritz 77.
“We are continuously changing. Working with international brands is a constant challenge to stay up to date with these new trends. Both in terms of design, materials, inclusion, and sustainability concerns.”
Paulo Jervell, Partner at Openbook
Read below the full interview in Portuguese:
Openbook: arquitectura pragmática
Manuela Sousa Guerreiro
Criada há 15 anos por três arquitectos e um financeiro, a Openbook Architecture é hoje uma referência internacional na arquitectura corporate. A recente criação da NOBK e a entrada de Diana Noronha Feio como partner trouxe uma nova linguagem e dinâmica a uma arquitectura, sobretudo, pragmática. Paulo Jervell e Diana Noronha Feio, dois dos seus cinco partners, falaram com a Traço sobre este processo de mudança e crescimento da Empresa.
Paulo Jervell, partner fundador da Openbook Architecture e Diana Noronha Feio, que recentemente se juntou à equipa como co-partner, aliaram-se para uma conversa aberta sobre os caminhos percorridos nos últimos quinze anos onde perspectivaram o futuro de um gabinete que já nos habituou a uma arquitectura pragmática, na forma como aborda os projectos. Depois do corporate, a Openbook tomou de assalto o segmento de hotelaria e turismo e a NOBK é o seu Cavalo de Tróia.
A Openbook Architecture completa este ano 15 anos. Como é que tem sido este percurso?
Paulo Jervell (PJ): Começamos com quatro partners: o Rodrigo Sampayo, João Cortes e Pedro Pires, para além de mim. Recentemente entrou a Diana Noronha Feio que veio complementar a actuação do Openbook e trazer valor acrescentado em áreas que identificámos com potencial, não só para diversificar a nossa actuação, mas, acima de tudo, para acrescentar valor aos nossos projectos com a introdução de um conjunto de serviços adicionais que se identificam com o perfil, com a identidade e com a linguagem do Openbook.
Já colaborávamos com o atelier da Diana em alguns projectos e realmente havia uma sintonia muito forte e uma identificação muito forte em termos de identidade e de linguagem e fez sentido fazermos aqui uma espécie de incorporação do atelier da Diana. Surgiu assim a NOBK como uma empresa complementar aos projectos do Openbook, mas também autónoma para projectos com o perfil e no âmbito dos serviços de design de interiores e decoração.
15 anos depois, mantêm o foco no segmento corporate?
PJ: Eu diria que isso é uma percepção do mercado. A Openbook surge em 2007, com a criação de uma empresa e eu reforço o termo empresa porque todos nós temos percursos diferentes, nomeadamente o Rodrigo e o João vêm de um atelier tradicional de arquitectura, o Pedro Pires tem um percurso muito ligado à componente financeira e eu próprio embora seja arquitecto, estava mais ligado à gestão de projectos consultoria imobiliária. Três arquitectos e um financeiro. Decidimos na altura criar uma empresa que tivesse um atelier de arquitectura dentro da empresa, muito mais focada para o mercado institucional, e com um conjunto de valências e de serviços que fossem para além do projecto de arquitectura e muito focados no cliente, mas também nos prazos, na rentabilidade e eficiência dos projectos.
O que não é, propriamente, uma característica que associamos à arquitectura em Portugal…
PJ: Precisamente. Por isso eu reforço que somos uma empresa de arquitectura. Não obstante, o nosso grande impulsionador era, e é, o de fazer boa arquitectura, tal como um tradicional atelier de arquitectura. Isto significa que não olhamos apenas para a rentabilidade ou para a eficiência dos projectos, embora estes sejam, cada vez, factores fundamentais face ao enquadramento económico e social que vivemos. Temos de responder aos objectivos e às expectativas e exigências dos clientes, não estamos a fazer arquitectura para nós, mas para o utilizador/ cliente, mas estamos a introduzir o nosso conhecimento e o nosso traço.
Essa foi uma das razões de nos chamarmos Openbook, ao invés de associarmos o nome dos partners à designação do gabinete. Somos uma empresa, liderada pelos partners, mas que acima de tudo tem uma equipa por detrás, uma equipa de muita qualidade e entrega. E esse continua a ser o nosso driver estratégico.
Voltando um pouco atrás e falando dessa percepção do mercado.
PJ: Em 2007 estamos a arrancar com uma empresa nova em pleno início de crise que abalou muito o mercado imobiliário, mas também o mercado da construção e, principalmente, de obra nova.
Começar uma empresa nestas circunstâncias teve, desde logo, um grande desafio que foi não só o de ultrapassar as dificuldades que essa crise acarretou para o mundo, para a Europa e, nomeadamente, para Portugal, mas que, por um lado, motivou desde cedo a necessidade da nossa internacionalização, enquanto nos focou numa área de negócio e de construção que embora estivesse a ser impactada pela crise ainda era uma área que tinha alguma procura que era o mercado corporativo.
Solidificámos a nossa actuação nesse segmento, que nos permitiu ganhar uma expertise que, eu diria, nos distingue. Esse reconhecimento foi crescendo ao longo destes 15 anos e a estratégia da empresa foi se adaptando a outras áreas de negócios. Actualmente o mercado corporativo continua a ter um peso muito considerável no volume de projectos da empresa, cerca de 60%, mas no começo chegou a ter uma relevância de mais de 80%. Os outros restantes 40% estão hoje distribuídos pela área residencial, área hospitalar e a área de turismo.
A entrada no segmento da hotelaria e turismo foi reforçada com a criação da NOBK?
PJ: Já trabalhávamos neste mercado, mas o complemento que nos é dado por esta nova vertente de design de interiores permite-nos entrar numa área de negócio muito mais abrangente. Uma coisa é construirmos o edifício, o hotel, outra coisa é podemos fazer uma intervenção muito mais transversal.
Diana Noronha Feio: Ao fim ao cabo é conseguimos dominar duas escalas diferentes do projecto. Penso que é algo que é sempre muito sensível a quem está habituado a trabalhar numa determinada escala, a escala do projecto do edifício em si, poder depois entrar numa escala que exige outra aproximação. Uma forma de olhar para o mesmo edifício numa óptica muito mais sensorial e, no fundo, a criação de um departamento e uma marca que está focada nessa segunda fase de interacção com a arquitectura que é quando entra o interiorismo, potencia o vivermos o edifício até ao fim.
Que projectos já desenvolveram com a nova marca?
PJ: A nossa colaboração iniciou-se mais na área corporativa e na área residencial, depois tivemos uma consolidação com o projecto do Hotel Ritz que foi o projecto eu diria mais recente, mais emblemático em que realmente conjugámos a intervenção da arquitectura com a intervenção em termos de design.
DNF: Houve uma intervenção arquitectónica que foi um projecto muito profundo e que já tinha alguns anos de desenvolvimento aqui na Openbook, mas a criação deste resort urbano no Ritz já surge numa fase mais tardia e essa nossa aproximação ao interiorismo e de resolver o projecto de A a Z e concebermos o Bar do Hotel e todo o mobiliário da piscina que foi criado para o espaço… significou uma entrega muito grande na definição dos detalhes, do pormenor, de materialização do espaço.
DA INTERNACIONALIZAÇÃO E DAS MUDANÇAS
Como é que a pandemia influenciou o vosso trabalho, dada as transformações que observamos no modo como se vivenciam os escritórios?
PJ: Estamos sempre em mudança. Depois vamos sendo confrontados com alguns acontecimentos que, de alguma forma, precipitam essas mudanças ou nos fazem pensar para que lado devemos caminhar e de facto a pandemia veio acelerar um conjunto de mudanças. Mas já estávamos a percorre esses caminhos com várias empresas que estavam já a reequacionar a forma de trabalhar e de ocupar os edifícios e a sua própria forma de estar.
É interessante perceber, e contrariamente áquilo que seria expectável, que o take up de escritórios está a crescer e continua a bater recordes. Sempre defendemos que o espaço de trabalho não ia acabar porque as empresas e as pessoas não estão preparadas para ficarem eternamente a trabalhar de forma remota. A questão é como é que o espaço de trabalho se vai adaptar às novas exigências não só das empresas, mas também das pessoas. O que estamos a observar é que grande parte das empresas estão a ter uma necessidade de transformar e adaptar os seus espaços de trabalho, os seus escritórios, porque os colaboradores querem trabalhar de forma diferente e ter um conjunto de condições que entram em ruptura com aquelas que existiam anteriormente à pandemia.
Isso acrescenta mais desafios ao design?
DNF: Desafios de perceber estas mudanças de cultura em todos os aspectos. É importante as empresas manterem uma cultura viva e ao mesmo tempo que a cultura da empresa é uma apropriação das pessoas e acaba contaminada, no bom sentido, pelos seus colaboradores e pelas suas necessidades e por essa nova forma de trabalhar que também se ganhou com a experiência da pandemia.
Nós estamos sempre em mudança, como o Paulo referiu. Mas integrar outras culturas nos nossos espaços de trabalho é uma preocupação e um desafio. Como é que os nossos projectos reflectem os valores destes clientes que são simultaneamente idênticos e diferentes a nós? A nossa abordagem passa por responder às questões: Quem é o nosso cliente? O que é que este nosso cliente precisa?
PJ: Todos os dias estamos em mudança. Trabalharmos com todas estas marcas internacionais permite-nos estar sempre um pouco à frente do que são estas novas tendências e estamos a falar de tendências em termos de design e de materiais, em termos de preocupações de inclusão, de sustentabilidade. E focando nesta colaboração entre a NOBK e a Openbook e na integração deste serviço, não estamos só a abordar a questão funcional e a questão da resposta às métricas e às necessidades funcionais da empresa, mas trazer sim uma preocupação e um valor acrescentado no que é o design de interiores. A definição do desenho do mobiliário, a própria integração da decoração e da arte nos escritórios que pode ser arte física, a arte digital, pode ser a arte metaverso, realidade aumentada…
DNF: No final do dia, tudo se resume à experiência.
Que projectos têm actualmente em curso e que podemos destacar?
PJ: Em termos corporativos estamos com um volume de trabalho muito grande. Temos um desafio muito interessante em mãos que é o projecto da nova sede do Novo Banco, que riá passar para o Tagus Park, que é um projecto para o qual fomos seleccionados para fazer toda a componente do fit out e design de interiores. O projecto da remodelação do campus está a cargo de um arquitecto espanhol. É um desafio grande porque estamos a facilitar através do espaço uma transformação organizacional no Novo Banco que irã passar de localização muito urbana e privilegiada da Avenida da Liberdade para o Tagus Park e que acreditamos que terá um conjunto de factores muito atractivos É um projecto com cerca de 30 mil m2 o que é uma dimensão bastante grande.
Continuamos a fazer projectos para as chamadas Big Four estamos a fazer a nova remodelação da nova sede da Mckinsey. Já tínhamos feito a Deloitte, KPMG e PwC e temos agora a oportunidade de estar a fazer a Mckinsey e dar continuidade a esse serviço. Estamos a fazer também fomos seleccionadas para o novo Campus do BNP Paribas no Parque das Nações, um projecto muito desafiante…
DNF: E isso é só no corporate. Estamos a avançar com projectos residências e na área da hotelaria e turismo, estamos a trabalhar num resort numa ilha tropical, hotéis de charme, a transformar um antigo convento numa unidade hoteleira, estamos a desenvolver um projecto de um palácio do século XIX… só para nomear alguns e perceber a diversidade do trabalho que estamos a desenvolver.
A Openbook irá crescer em termos orgânicos?
PJ: Temos uma equipa com 50 pessoas e uma forte expectativa de virmos a crescer 20 a 25% em termos de equipa até ao final deste ano.
Com todos estes projectos a internacionalização da Openbook será reforçada?
PJ: A internacionalização da Openbook começou precisamente em 2008, mas estamos a reforçar essa vertente e estamos a diversificar o mercado de internacionalização. Acompanhámos alguns clientes que tínhamos cá nos mercados de internacionais como o Brasil, onde abrimos um escritório em 2011, e em Angola. Países com forte relação a Portugal. Assistimos agora a uma forte procura no mercado angolano e vamos dar continuidade à nossa internacionalização para o norte e centro da Europa. Estamos a realizar um projecto de relevância no Luxemburgo e estamos com uma demanda interessante na Bélgica e em França.
Pensamos abrir em breve um escritório no Luxemburgo para cobrir essa área e dar suporte a este conjunto de projectos que estamos a desenvolver na região.
A revolução silenciosa no Ritz
Manuela Sousa Guerreiro
Openbook liderou o processo de transformação estrutural do Four Seasons Hotel Ritz Lisboa. Uma intervenção silenciosa que criou mais um nível subterrâneo, para estacionamento, transformou a zona das galerias numa área para escritórios e fez nascer uma área de lazer e piscina dedicada aos hóspedes da prestigiada e histórica unidade hoteleira da capital mas que, acima de tudo, respeitou e manteve a identidade do edifício que está classificado como Monumento de Interesse Público
Intervir no edifício icónico e um exemplo da arquitectura moderna em Portugal foi simultaneamente uma ousadia e um desafio para a Openbook. A remodelação arquitectónica abrangeu a construção de mais um piso subterrâneo para dotar de maior capacidade o parque de estacionamento do hotel, transformou as antigas galerias do Ritz numa nova área de escritórios, com espaços de suporte a essa nova função, incluindo restauração, e concretizou um espaço exterior, pensado como um resort urbano.
“Este é um edifício icónico, um dos poucos exemplos de arqui tectura moderna consagrada e preservada no nosso país e por isso o que quer que fosse feito teria que ser sempre uma intervenção silenciosa porque o destaque continua a ser o hotel Ritz e aquela ideia que chegamos ali ao Marques de Pombal e ao Parque Eduardo VII e temos o monumento”, explica Diana Noronha Feio.
A face mais visível desta transformação foi precisamente a criação do bar e piscina no hotel. Um espaço novo, mas que recuperou muito do ambiente original, do início da década de 60. “Ocupando a estrutura circular original de 1959 no terraço do hotel, o Ritz Pool Bar abre-se totalmente para a área da piscina, com espreguiçadeiras e cabanas em tons terracota, criando a sensação de pairar sobre o Parque Eduardo VII”, descreve o gabinete.
A remodelação arquitectónica pretendeu criar um ambiente de “resort na cidade”, que tirasse todo o partido da ligação ao Parque Eduardo VII. Assim, quem está no bar sente-se envolvido nesta mancha verde e é transportado para longe da confusão da cidade. “Qualquer intervenção que fizéssemos no edifício teria de ser extremamente cuidadosa”, refere Diana Noronha Feio.
A intervenção introduz o elemento orgânico, visível no contorno da nova piscina ou do bar que lhe serve de apoio e que se estende ainda ao mobiliário desenhado de propósito para o projecto, e que vai buscar inspiração às maquetes inicias do Hotel, da autoria de Pardal Monteiro. “O novo desenho desenvolve-se num estilo que junta os traços modernistas e a geometria mais formal do edifício, a uma base mais orgânica com os princípios que também inspiraram Burle Marx, paisagista que acompanhou Niemeyer. Uma abordagem que procura naturalizar, adoçar e tornar a vivência do espaço mais de acordo com o fim a que se destina.”, esclareceu João Cortes, partner da Openbook Architecture.
Para além do resort urbano, foram criadas condições para adequar o exterior do edifício a eventos “e isso foi conseguido através de uma ligação directa do hotel à plataforma exterior, que não existia, e com a criação da pala que fecha e agarra o edifício como um todo e circunscreve essa zona da plataforma exterior como parte integrante do hotel”, refere o arquitecto e partner Paulo Jervell.
Um novo centro de escritórios na cidade Ao longo de décadas, a zona das galerias do Ritz, que ocupa o embaçamento do edifício, teve várias utilizações, inclusive a de stand de automóveis de luxo. A intervenção agora realizada deu-lhe outra função, a de centro de escritórios, uma área de três mil m2, com os seus espaços de suporte, designadamente auditório, espaços atractivos para restauração, espaços exteriores e uma ligação franca e directa ao hotel. Os novos espaços já estão todos alugados e em breve vão imprimir uma nova dinâmica ao Ritz.
“Foi um desafio considerável: num espaço que só tinha duas frentes de rua criámos condições que permitisse mais luz natural através da criação de uns vazados e de uns pátios que acabam por permitir que as diferentes fracções de escritórios tenham luz natural e acesso directo ao exterior”, complementa o arquitecto Paulo Jervell.