A building that reflects me, by Marta Castillo.
2023
[Text in Portuguese]
Gosto de pensar em La Tallera como uma pessoa: uma mulher, uma artista, alguém grande e sem medo. Serei eu?
Também há partes delicadas e nisso sinto-me confortável ao pensar que sou similar ao edifício. Sou toda uma grande fachada, muito séria, meio bruta, no meio de muitos acontecimentos, no meio da cidade. Crio uma praça, chamo as pessoas e tento dialogar com elas. Dialogo. O meu exterior é um grande convite a todos.
No caso de La Tallera, foi suficiente rearrumar dois murais que já lá estavam para gerar esta praça. Só foi preciso entendê-los para puder desfrutar deles e acho que acontece da mesma forma comigo: é preciso perceber a minha forma de ver o mundo.
O projecto La Tallera de Frida Escobedo é uma intervenção na casa-atelier do muralista David Alfaro Siqueiros, quem no ano de 1965 projetou e desenhou o edifício. Após estar encerrado vários anos, voltou a abrir as suas portas em 2012 com o projecto de arquitetura da Frida, para acolher um programa de museu, workshop e residência artística.


Photography © Rafael Gamo
Vejo-me refletida neste edifício, onde os dois grandes murais são introduzidos em jeito de cumprimento na fachada. É a primeira sensação com o exterior, a primeira impressão que todos temos.
O interessante aqui é que, até descobrir o espaço do atelier atestado de obras de arte, no coração do edifício, atravessamos delicados espaços. Espaços frágeis, onde os raios de luz fundem-se e alternam-se com a opacidade da matéria.
Do mesmo modo, penso eu, acontece comigo: as pessoas que se adentram pelos corredores da minha personalidade, às vezes podem encontrar-se confundidas entre subtilezas e sensibilidades. Às vezes podem receber muita luz direta, outras, mais calma e escuridão nos dias mais difíceis. Mas, o ponto em comum com La Tallera é que tudo isto carece da capacidade de ocultar-se. O edifício é todo aparente e patente. Serei eu?
Não percebemos muito de modas, mas gostamos de ter um estilo atemporal. A nossa linguagem é uma linguagem universal, mais do que palavras somos espaço no papel, sempre com qualquer coisa que manche, que tinte. Na nossa ingenuidade, não julgamos ser o edifício mais destacado, mais elegante. Mas sim aquele mais estranho, mais particular.
As pessoas podem olhar para nós as duas e sentirem-se ouvidas, identificadas. Somos simples, somos rua.

Photography © Rafael Gamo
E, no final do trajeto, após termos percorrido antessalas e corredores, chegamos ao grande espaço principal. O espaço onde a magia acontece, onde os artistas libertam-se. Neste atelier são todos bem-vindos.
Nem todos foram capazes de chegar até cá. Nem todas as pessoas se sentem atraídas pela ideia de ter de descobrir o que se está a tramar com forma de arte, no interior de uma nave sem muita graça; ou no interior duma pessoa. Por isso, bem-vindos.
by Marta Castillo, Architect at Openbook