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BIM and the potential of artificial intelligence.

2024

Madalena Mariz, BIM Manager and Architect at Openbook, shared in Anteprojectos magazine her vision of how BIM and artificial intelligence can significantly contribute to this industry.

 

Read below the full article in Portuguese:

Quantos de nós já ponderámos sobre a exequibilidade de uma alteração ao projeto devido à quantidade de desenhos que teriam de ser refeitos, encontrámos dificuldade em gerar uma imagem que sintetizasse o conceito do projeto, produzimos dezenas de alternativas para determinar a melhor distribuição e articulação entre espaços para um programa funcional extenso, ou despendemos incontáveis horas a calcular as áreas resultantes de cada nova proposta? Há na maior parte destas tarefas uma dimensão extremamente laboriosa, normalmente impercetível para o cliente e à qual a nossa formação académica e profissional não traz valor acrescentado.

É fácil identificar as ferramentas a que hoje já recorremos para nos apoiarem nestas tarefas, mas parece-me que podemos ser ainda mais ambiciosos. E a inteligência artificial (IA) pode ser claramente uma resposta a muita da nossa intenção.

A adoção da metodologia BIM no âmbito da arquitetura, engenharia e construção (AEC) requere, entre outros aspetos, a definição dos usos ou finalidades que a justificam, a regulação orgânica das relações entre os diversos intervenientes envolvidos no processo e a criação de modelos (relacionando geometria e informação) através dos quais todo o ciclo de vida do edifício é simulado. A digitalização de todo o processo revela-se a incubadora perfeita para a incorporação de IA como forma de melhorar os padrões de qualidade dos projetos, sendo que o aumento da capacidade de computação e a disponibilidade de informação em bases de dados contribuem sobejamente para a viabilização desta aspiração.

É natural à inteligência humana organizar, encontrar padrões, produzir ferramentas e hierarquizar prioridades para fazer face aos desafios que conseguimos antever. E isso não é de agora. Por exemplo, o trabalho dos serviços secretos britânicos na Segunda Guerra Mundial, nomeadamente de Alan Turing, na descodificação das mensagens de rádio alemãs ofereceu aos aliados uma posição de vantagem que permitiu antecipar o fim da guerra, poupando muitas vidas.

O potencial da IA em contexto AEC é tão abrangente que, paradoxalmente, pode ser difícil conseguir concretizar a sua aplicação prática. Alguns de nós pensarão que o seu contributo à prática no setor é ainda demasiado limitado, outros imaginarão que irá largamente substituir o trabalho humano, outros ainda remeterão a questão ao ridículo, criticando alguma aleatoriedade do seu contributo.

Uma indústria como a nossa, de grande complexidade, com um histórico de enormes desfasamentos orçamentais e temporais face ao esperado, e responsável por cerca de 40% das emissões globais de gases que contribuem para o efeito de estufa, carece de ferramentas que permitam melhorar o seu desempenho.

Têm-se tornado virais imagens caricaturais de variantes de estilo para um mesmo objeto ou edifício. Mas e se levássemos este “jogo” um pouco mais a sério para estudar alternativas de incorporação dos princípios de adaptação climática em função de região e do programa do edifício? E se, dada a capacidade de processamento de que dispomos hoje, nos permitíssemos replicar a eficiência das estruturas da natureza que tende a ser posta de parte para simplificação e massificação dos processos produtivos e de comunicação? E se edificássemos com recurso a tecnologias de impressão 3D por adição, permitindo eliminar estruturas de cofragem ou material remanescente resultante de cortes? E se nos pudéssemos libertar do quebra-cabeças do melhor rendimento dos materiais, mitigando o trabalho de corte in-situ e garantido a completude dos padrões visuais através do estudo das estereotomias? E se a gestão de obra pudesse dispor de várias alternativas para reprogramação dos trabalhos sempre que se verifica a impossibilidade de progredir numa determinada frente de obra?

Coloca-se-nos tendencialmente a questão do que queremos automatizar e aí a comunicação eficaz entre humanos e sistemas de IA é crucial para garantir que a tecnologia seja verdadeiramente útil. Em muitos casos, os usuários finais da IA podem não ter conhecimento avançado em programação ou em linguagens específicas de IA. Portanto, é imperativo criar interfaces intuitivos e mecanismos de interação que permitam traduzir as suas necessidades de forma simples e compreensível. Uma formação transversal e sólida é, no entanto, inalienável. Sem esta, ficam comprometidos o domínio do output e o espírito crítico face ao resultado.

A partir das evoluções científicas e tecnológicas ao longo da história tem sido possível encontrar vantagens competitivas e comerciais, mas também a possibilidade de criar melhores condições de vida, eliminando trabalho demasiadamente duro, perigoso ou nocivo. À medida que estas inovações se vão revelando maduras e tornando amplamente acessíveis, surge a disponibilidade para alargar a investigação a novos campos. Esta dinâmica não substitui de forma alguma a curiosidade, a criatividade e a necessidade de uma tomada de decisão humana perante situações novas, inesperadas ou de crise, mas pode reduzir o tempo de resposta a problemas complexos. Ou seja, não é a solução para todos os problemas, mas trará contributos muito relevantes.

Article previously published in Anteprojectos.

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