Regenerate with Architecture.
2024
25.09.2024
To celebrate National Sustainability Day, Catarina Martins, Senior Architect at Openbook, shares her vision with Expresso on how to regenerate with architecture and outlines strategies to create more sustainable cities.
Read below the full article in Portuguese:
Parece utopia viver numa cidade onde as coberturas dos edifícios são refúgios para espécies polinizadoras, as ruas detêm redes verdes que promovem biodiversidade e filtram o ar, e os espaços públicos são projetados para o bem-estar social, económico, físico e mental de todos? Essa é a visão que a arquitetura regenerativa pode trazer para Lisboa e outras cidades portuguesas, promovendo um futuro mais verde e saudável.
Amsterdão lidera o Índice de Cidades Sustentáveis 2024 (SCI) da Arcadis, destacando-se pelo desempenho económico, equidade social e investimento em infraestruturas de energia renovável. O relatório compara 100 cidades do planeta com base na sua resposta aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), traçados para cada década. A arquitetura desempenha um papel fundamental na concretização destes objetivos, cujo impacto vai para além do uso de materiais e técnicas construtivas com baixa emissão de carbono para a atmosfera. Perante exemplo de urbe tão ilustre, de que forma pode uma cidade como Lisboa, que detém a 27º posição neste índice, fortalecer a sua componente sustentável?
A arquitetura pode recorrer a técnicas regenerativas, conhecidas por Nature Based Solutions (NBS), que oferecem soluções que tenham por base o modo como a natureza opera nos seus diferentes ecossistemas, procurando respeitá-la e até mesmo mimicá-la. Exemplos incluem as ‘Cidades Esponja’, conceito do paisagista Kongjian Yu, aplicado no Parque da Asprela no Porto, pela mão do arquiteto José Miguel Lamelas. O parque absorve água da chuva e cria lagos artificiais que libertam água gradualmente na rede hídrica existente na cidade, reduzindo as consequências drásticas das cheias. Além disso, restaura a biodiversidade, atraindo pássaros e outras espécies, melhorando o bem-estar dos usuários e valorizando o espaço urbano circundante.
Fachadas e coberturas ajardinadas, com painéis solares e possíveis hortas comunitárias, provam ser estratégias eficazes no arrefecimento das temperaturas na cidade, combate ao isolamento social, e redução das emissões de carbono associadas ao transporte de bens essenciais. Recentes pontos de recolha de resíduos urbanos transformam os mesmos em composto de fertilização para uso posterior em zonas agrícolas. Este é apenas um exemplo do modo como as cidades podem adotar um ‘metabolismo circular’, onde o fim do ciclo de vida de um elemento se torna o início de outro. Este princípio liga-se ao estudo do ciclo de vida de diferentes construções (Life cycle Assessment, LCA), que defende a ideia de que construções novas devam investir em estruturas adaptáveis a diferentes usos, garantindo flexibilidade ao longo do tempo.
Intervenções pontuais em áreas estratégicas das cidades podem beneficiar todas as esferas da sustentabilidade. As ciclovias reduzem veículos motorizados e melhoram a saúde física e mental dos ciclistas. Investimentos de escala menor, como a Ribeira das Naus na frente ribeirinha de Lisboa, fortalecem a identidade local, gerando benefícios económicos e sociais e incentivando outros projetos urbanos e eventos a surgirem de forma passiva e espontânea. Essas intervenções operam dentro da esfera da acupuntura urbana, que intervém cirurgicamente em pontos específicos da cidade para atingir uma regeneração global da mesma.
Oferecer vidas mais sustentáveis passa por criar espaços que promovam esse estilo de vida. As abordagens citadas são parte das muitas opções que o arquiteto pode usar para fazer do seu trabalho um produto funcional, estético, consciente e duradouro. A arquitetura deve fomentar lugares que proporcionem vivências saudáveis e felizes, com foco na eficiência energética e redução de desperdício, integrando soluções viáveis e sustentáveis. Os edifícios não refletem só a nossa sociedade, eles moldam-na, e acredito que nos próximos anos Lisboa terá com certeza subido a sua posição neste ranking.
Article previously published in Expresso.