The inspirations of an architect with Matilde Frada Almeida in Público magazine
11.10.2024
An architect begins as a poet with a dream and a vision, then becomes a humanist so as not to lose direction when relating to their surroundings, and finally a builder capable of applying their art, the art of construction. Throughout this process, architects cling to personal, visual, cultural, and sensory memories — examples that captivate them.
It is essential to mention the importance of those who instill enthusiasm in others. Education is the pillar of inspiration, and teachers have the role and mission of inspiring their students with curiosity and not just facts. Restlessness that leads us to want to encounter situations where we are exposed to the unknown. It is in these moments of fragility that the architect naturally allows himself to be amazed.
The theme of travel, confrontation with new realities, is the greatest inspiration, the one that enriches and makes the architect resurrect every day. To travel through the pages of a book is to be transported to an imaginary world. Reading, for example, Tanizaki’s “In Praise of Shadows” is to feel oneself in deep, traditional Japan. Throughout the text, we understand that Japan points to a way of being that identifies with this darkness, with the contrast to light. It values the shadow and weight of corridors, household utensils, bare architecture, and a woman’s face.
For any Westerner, this theme triggers criticism of the fascination with light to which they are accustomed. The difference inspires us, alerting us to the fact that there is a wide range of unique realities to which we can turn when responding to a project. Traveling, leaving the territory we know, awakens a keener sense of observation in us.
There is time to understand that medieval cathedrals, Roman basilicas, and Greek temples are more than just reference works by a certain architect, creations of an era. These buildings we encounter, seemingly impersonal in nature, mark us and recur in our memory because they are proof that architecture is the will of an era translated into space. They make us want to follow this example of designing lasting buildings that represent our time.
Traveling every day, from home to work or school, is the most voracious inspiration for the architect. In our supposedly standardized daily routine, there are events that determine a short period of time. We are more susceptible to what we see, smell, hear, and feel. These sensations trigger the architect’s critical sense. They make us question solutions, or they are moments of wonder that we keep as something precious to apply later.
Traveling, wandering through the projects of our peers, is to experience a specific way of thinking about architecture. When we take a project as a reference, it is because we instinctively feel the dedication of its author. We recognize that there is a strong dialogue between the construction, nature, and history of the place. When a building reveals attention to detail in its architecture and expresses an understanding of the possibilities and limitations of materials, it is impossible to remain indifferent.
It is inspiring when someone’s work is a commitment to their memories, to everything that surrounds them, and even to their own body.
Source: Público

As inspirações de um arquiteto com Matilde Frada Almeida na revista Público
O arquiteto começa por ser um poeta com um sonho e uma visão, depois um humanista para não perder a direção ao relacionar-se com o que o rodeia e, no final, um construtor capaz de aplicar a sua arte, a arte da construção. Ao longo de todo este processo, o arquiteto agarra-se a memórias pessoais, visuais, culturais e sensoriais – exemplos que o cativam.
É imprescindível referir a importância daqueles que incutem entusiasmo no outro. A educação é o pilar da inspiração e os professores têm o papel e a missão de marcar os seus alunos com inquietude e não apenas com factos. Inquietude que nos leva a querer depararmo-nos com situações onde somos expostos ao desconhecido. É nestes momentos de fragilidade que naturalmente o arquiteto se deixa maravilhar.
O tema da viagem, confronto com novas realidades, é a maior inspiração, aquela que enriquece e faz o arquiteto ressuscitar todos os dias. Viajar pelas páginas de um livro é ser transportado para um imaginário. Ler, por exemplo, “O Elogio da Sombra” de Tanizaki é sentir-se no Japão profundo e tradicional. Ao longo do texto, entendemos que o Japão aponta para uma forma de estar que se identifica com esta escuridão, com o contraste com a luz. Valoriza a sombra e o peso dos corredores, dos utensílios domésticos, da arquitetura despida, do rosto da mulher.
Para qualquer ocidental este tema é o despoletar da crítica ao fascínio da luz a que está habituado. A diferença inspira, alerta-nos de que há um leque variado de realidades únicas, às quais podemos recorrer quando damos resposta a um projecto. Viajar, sair do território que se domina, desperta um sentido de observação mais apurado em nós.
Há tempo para entender que as catedrais medievais, as basílicas romanas, os templos gregos são para nós mais que obras de referência de certo arquitecto, criação de uma época. Estes edifícios com que nos deparamos, aparentemente impessoais por natureza, marcam-nos e surgem recorrentemente na nossa memória, por serem a prova de que a arquitectura é a vontade de uma época traduzida no espaço. Fazem-nos querer seguir este exemplo de projetar edifícios duradouros, representantes do nosso tempo.
Viajar todos os dias, desde o caminho de casa até ao trabalho ou escola, é a inspiração mais voraz para o arquitecto. Na rotina diária, supostamente padronizada, há eventos que determinam um curto espaço de tempo. Estamos mais suscetíveis ao que vemos, cheiramos, ouvimos e sentimos. Estas sensações despoletam no arquitecto o sentido crítico. Fazem questionar soluções, ou são momentos de deslumbre que guardamos como algo precioso para mais tarde aplicar.
Viajar, deambular pelos projectos dos nossos pares é vivenciar um método específico de pensar arquitetura. Quando tomamos um projeto como referência é porque sentimos instintivamente a dedicação do seu autor. Reconhece-se que há um forte diálogo entre a construção, a natureza e a história do local. Quando um edifício revela uma atenção ao detalhe na arquitectura e expressa a compreensão das possibilidades e limitações dos materiais, é impossível ficar-se indiferente.
É inspirador quando o trabalho de alguém é um compromisso com as suas memórias, com tudo o que o rodeia e até com o seu próprio corpo.
Fonte: Público
