Studio

Creativity adrift with João Cortes for Traço magazine

12.11.2024

João Cortes, partner at Openbook Group, shared his ideas on creativity with Traço magazine.


Creativity adrift.

Imagine an infinite universe composed of galaxies, planetary systems, and objects down to the micro scale in levitation, grouped by gravity in endless motion. The journey begins with the decision to move forward and overcome the initial gravity toward the unknown, and then let oneself be carried away by the infinity of gravities in a continuous exploration.

Restlessness and a taste for discovery are the first spark—blessed are the restless souls. Each place of arrival is always a new starting point. Complacency and a taste for comfort kill.

The unknown always instills some, little, or no fear. The fear of defeat is the main enemy…. (Good) fear has the virtue of provoking some adrenaline. I love people who have some fear when taking the plunge…. Courage has nothing to do with the absence of fear.

It is the ability to face the unknown of the journey and the lack of information about the destination. Survival in chaos and then more chaos is a good school.

Now let’s imagine a more or less candid soul, but curious, interested, and attentive, with a critical sense that is only dormant… when it sleeps. This soul feeds constantly on what it touches, sees, tastes, smells, and hears. Only an experimental soul can gain experience. I no longer know who said that culture is what remains after you forget what you have learned. I would add that experience is what remains after you forget what you have experienced.

Knowing how to appreciate opens new windows. Creativity cannot be forced… it is something that is awaited… like opening a window and waiting for it to appear. When forced, it can be destructive.

But experience should be forced every day, all the time, with everything and everyone. Experience is the mother of creativity. Experience becomes innocuous… sorry: toxic! if there is no critical sense, curiosity, a desire to know and a desire to do, and, very importantly, if the five senses are not stimulated.

Contagion with matter—mediated by the senses and previous experiences—is the foundation of the architect’s vocation and training, insofar as all their future intellectual work will have the mission of developing formulations that aim to reconstruct matter, according to a very concrete function, context, and objective. The urban planner only works on a larger scale, and when this is not the case – when the power of abstraction detaches itself from the smell of matter – they will not be able to humanize the city.

The Bauhaus school was absolutely right to base the training of architects on the close connection between the various arts and crafts, promoting contact and experience first and foremost. Taking this strategy to the extreme of postponing the study of history to later stages, so as not to influence/condition the ability and willingness to understand the rawness of matter at the outset.

This ‘hunger’ for connection to matter through the most diverse forms, such as drawing, sculpture, and all arts and crafts, is a topic typically more associated with stimulating creativity in the field of architecture and the arts, but only because – here – there is a justified expectation of creativity. But the power of creativity in general terms should not be and is not exclusive to the arts… it applies to all human actions insofar as, ultimately, it broadens horizons, circles, and polyhedrons in which our brain is designed.

The importance of co-creativity. In reality, if creativity is born from a provocation in which the creator summons an infinity of external stimuli—experience—why not also summon others besides ourselves to the creative act? Isn’t this a smart formula for increasing the spectrum of stimuli that are at the origin of a creative act?

A leader who fails to take advantage of this gift has other issues to resolve in other departments.

Source: Traço Magazine

Creativity adrift with João Cortes for Traço magazine

Criatividade à deriva com João Cortes na revista Traço

João Cortes, sócio do Openbook Group, partilhou as suas ideias sobre criatividade com a revista Traço.


Criatividade à deriva.

Imaginemos um universo infinito composto por galáxias, sistemas planetários e objectos até à micro escala em levitação, agrupados pela gravidade num movimento sem fim. A viagem nasce da decisão de avançar e vencer a gravidade inicial rumo ao desconhecido, para depois deixar-se levar pela infinitude de gravidades numa exploração contínua.

A inquietude e o gosto pela descoberta são a primeira ignição – benditas as almas inquietas. Cada lugar de chegada é sempre um novo ponto de partida. O comodismo e o gosto pelo quentinho matam.

O desconhecido mete sempre algum, pouco, ou nenhum medo. O medo da derrota é o principal inimigo…. O (bom) medo tem a virtude de provocar alguma adrenalina. Adoro as pessoas que têm algum medo no passo para o mergulho…. A coragem não tem a ver com a ausência do medo.

A capacidade de enfrentar o desconhecido da travessia e a desinformação sobre o local de chegada. A sobrevivência no caos e a seguir outro caos é uma boa escola.

Imaginemos agora uma alma mais ou menos cândida, mas curiosa, interessada e atenta, com sentido crítico e apenas adormecida… quando dorme. Esta alma alimenta-se a toda a hora daquilo que toca, vê, saboreia, cheira e ouve. Só uma alma experimentadora é que consegue ganhar experiência. Já não sei quem é que dizia que cultura é aquilo que fica depois de se esquecer aquilo que se aprendeu. Acrescento que experiência é aquilo que fica depois de se esquecer o que se experimentou.

Saber apreciar abre novas janelas. A criatividade não se força… é qualquer coisa que se aguarda… como abrir uma janela e esperar que ela apareça. Quando forçada consegue ser destrutiva.

Mas a experiência essa sim deve ser forçada todos os dias, a toda a hora, com tudo e com toda a gente. A experiência é ‘madre’ da criatividade. A experiência torna-se inócua… desculpem: tóxica! se não existir sentido crítico, curiosidade, gosto de querer saber e gosto de querer fazer e, muito importante: se não forem estimulados os 5 sentidos.

O contágio com a matéria – mediado pelos sentidos e experiências anteriores – fundamenta a vocação e a formação do arquitecto, na medida em que todo o seu trabalho intelectual futuro terá por missão a elaboração de formulações que visam reconstruir matéria, de acordo com uma função, um contexto e um objectivo muito concretos. O urbanista apenas trabalha a uma escala maior e quando assim não é – quando o poder de abstração descola do cheiro da matéria – não vai conseguir humanizar a cidade.

Estava a escola Bauhaus certíssima ao basear a formação dos arquitectos na estreita ligação entre as várias artes e ofícios, promovendo o contacto e a experiência em primeiro lugar. Levando esta estratégia ao extremo de adiar o estudo da História para fases posteriores, para não influenciar/condicionar no início a capacidade e a disponibilidade para entender a crueza da matéria.

Esta ‘fome´ de ligação à matéria através das mais diversas formas, como sejam o desenho, a escultura e todas as artes e ofícios, é um tópico tipicamente mais associado ao estímulo da criatividade no território da arquitectura e das artes mas apenas porque – aqui – existe justificadamente uma expectativa com carácter de exigência sobre a criatividade. Mas o poder da criatividade em termos genéricos não deve ser nem é exclusivo das artes…. aplica-se a todas as acções humanas na medida em que, no limite, é um alargador de horizontes, de círculos e de poliedros em que está desenhado o nosso cérebro.

A importância da co-criatividade. Na realidade, se a criatividade nasce de uma provocação em que o criador convoca uma infinitude de estímulos externos – a experiência – porque não convocar também para o acto criativo outros além de nós? Não é esta uma fórmula inteligente de aumentar o espectro de estímulos que estão na génese de um acto criativo?

Um líder que desaproveita esta dádiva tem outros assuntos, noutros departamentos, por resolver.

Fonte: Revista Traço