Architectural sustainability, the path we're already on

16.05.2023

Catarina Martins, senior architect at Openbook, wrote for Jornal Económico about her vision of the path to sustainability in architecture.

Read below the full article in Portuguese:

Sustentabilidade. O termo surge em 1987 no relatório ‘O Nosso Futuro Comum’, produzido no âmbito das nações unidas, no seguimento da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983. O texto define todos os aspetos relacionados com o conceito de sustentabilidade, tendo por base a relação entre o Homem e a Terra.

A ligação entre sustentabilidade e longevidade é, por isso, muito estreita – isto apesar de atualmente, e de forma errada, se considerar a sustentabilidade praticamente um sinónimo da ecologia, também no âmbito da arquitetura. Não faltam exemplos de greenwashing nesta área como em tantas a querer vender a ideia de que determinado material ou determinada tecnologia de poupança de água ou de luz é, por si só, suficiente para suportar um conceito completo de sustentabilidade.

Enquanto arquitetos, aquilo que pretendemos alcançar num projeto arquitetónico sustentável é o equilíbrio entre três vertentes: a económica, a ambiental e a social. A vertente ambiental é a que tem captado maior atenção nos últimos tempos com uma grande resposta por parte de promotores, projetistas e entidades estatais.

Isso é refletido na escolha de materiais, na procura de alternativas para uma climatização mais eficaz ou até na preferência por parceiros locais que, de alguma forma, respondam a um critério de proximidade. O foco nesta componente ecológica tem, sem dúvida, o seu valor. Mas muito se perde pelo caminho quando não se tem em conta as outras duas vertentes que completam este triângulo.

Sem estas 3 vertentes, o projeto arquitetónico não consegue garantir a sustentabilidade desejada. Se as pessoas não se sentirem confortáveis – aliando a sensação de segurança à disponibilidade de espaços de convívio e também serviços – passado pouco tempo, o mais provável é que esse edifício ou local murche como uma flor que não é bem regada e, assim, se criam espaços vazios na cidade. E se multiplicarmos isso por muitos sítios vai-se desvanecendo uma vitalidade urbana que é fundamental para a economia e para o surgimento de negócios e serviços.

Dito isto: há um valor incalculável em muita experimentação que se faz a nível de materiais e essa inovação é fundamental porque é importante que haja produtos novos a chegar ao mercado de forma a responder a esse critério ambiental. Recordo-me de uma solução que recentemente me chamou a atenção: a de um bloco de tijolo criado através de desperdícios têxteis e que tinha muitos benefícios a nível acústico, estrutural e funcional e que também esteticamente era muito curioso.

É uma solução que responde a um problema – o do lixo têxtil que ainda não tem uma reciclagem ampla e bem estabelecida no nosso país – e que cumpre a sua função prática a nível arquitetónico.

Há pouco tempo reservado para pensar de forma aprofundada nos projetos a nível cultural, histórico e social – sendo que este último implica também fazer uma auscultação à população, perceber de viva voz os problemas e necessidades existentes. São desafios a ajustar no panorama atual da arquitetura portuguesa rumo à sua sustentabilidade que, acredito, já estar   num bom caminho.

E não faltam bons exemplos, basta olharmos com atenção. Por exemplo o Campus Nestlé, que recebeu recentemente a certificação WELL Platina – o primeiro edifício em Portugal a atingir este nível de certificação – é um exemplo de transformação do existente em algo mais, arquitetonicamente sustentável.

Um projeto que promove uma forte ligação entre o interior e o exterior e consequente contacto com a natureza, num espaço exterior que soube criar ambientes de convergência social, como uma estrutura exterior para trabalho e lazer e uma pista para caminhadas. O sentido comunitário apurado levou também à criação de hortas comunitárias e um parque para cães. Tudo isto para além dos requisitos do próprio edifício em termos de qualidade do ar, luminosidade e conforto térmico, entre muitos outros, que se exigem num workplace contemporâneo e que procura o bem-estar de todos.

A Ribeira das Naus é um outro exemplo paradigmático e de sucesso. Passou de ser apenas um sítio entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré, para passar a ser O Sítio. Não se deixou usurpar da sua linguagem, fez um prolongamento muito respeitoso, contribuiu para a renovação de uma identidade local. Por consequência surgiram lojas, um quiosque, restaurantes, as fachadas de prédios circundantes foram reabilitadas, novos eventos foram criados. Mais e nova gente passou por ali, a conhecer, a comprar, a viver – o espaço ganhou vida própria, com o tecido urbano a crescer e alimentar-se e quem beneficiou fomos todos nós.

Este é o rumo a tomar, disso já não há sombra de dúvida. A sustentabilidade tem de ser pensada e enquadrada no contexto político, económico e social em que vivemos – não há receitas nem soluções milagrosas que se apliquem a todas as realidades e geografias. Só assim conseguiremos erguer casas, edifícios e lugares dignos da expressão que hoje está na boca de todos.

Article previously published in Jornal Económico.

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